FUNDAÇÃO
É árdua tarefa discutir a origem de uma Loja secular, pois a única fonte de dados é o documento escrito. Este é cada vez mais raro e requer exame com o mais meticuloso cuidado, porque pode não ser fidedigno, apesar de original. Os simulacros, nesses casos, não são amiúde evidentes; as vezes, seguem caminhos tortuosos que desafiam o mais arguto observador.
Não foi possível verificar exatamente como o processo de formação da Loja se desenvolveu, mas seguramente houve encontros preparatórios, porque as comunicações da época eram precárias, e qualquer organização demandava tempo. De modo que a comitiva maranhense que compareceu a Teresina para a fundação da Loja Caridade ll deve tê-lo feito mediante prévia combinação. Os jornais profanos de então não mencionaram o aparecimento de uma Loja maçônica, até onde se averiguou, embora tratassem de associações civis em que pontificavam vários maçons de Teresina, senão quase todos. É bem possível que a ideia da criação de uma Loja tenha sido engendrada nos encontros dessas sociedades.
A Loja Caridade ll foi fundada a 29.10.1858, com a presença de três ilustres comissionados pela Loja Humanidade e Concórdia, de São Luis do Maranhão: José de Araújo Costa, Alexandre de Araújo Costa e Antônio Moreira do Carmo. A ata de fundação levou as assinaturas de mais dezoito maçons: Antônio Gomes Villaça (Ven:.), Lourenço Antônio Marreiro de Castelo Branco (fº Vig:.), José Maurício da Costa Pestana (2ª Vig:.), Cândido Gil Castelo Branco (Orad:.), José Joaquim Avelllno (Sec:.), Jose Pereira Nunes (Chamo :.), Fernando da Costa Freire (Tes:.), Deolindo Mendes da Silva Moura (lº Exp :.), Firmino Alves dos Santos (29 Exp:.), José Cândido de Aguiar (Terriv:.), Francisco Mendes de Sousa (Hosp:.), Jeremiais de Castro Lima (Arch:.), Miguel Ferreira Cabral (M Banq:.), Joaquim de Lima e Castro, Luiz Manoel Soares, Herculano de Sousa Monteiro, Francisco da Costa Martins e José Antônio Furtado de Noronha. A data de fundação ainda é posta em dúvida nos dias de hoje. O próprio Estandarte da Loja mostra outra data. Levantamentos minuciosos foram feitos sobre o assunto, mas não se atingiu o consenso geral.
A Regularização da Loja no Rito Francês deu-se a 29.04.1860, sendo a Comissão Regularizadora constituída pelos llr :. Lourenço Antônio Marreiros de Castelo Branco (Presidente), Deolindo Mendes da Silva Moura e Firmino Alves dos Santos. A Carta Constitutiva era datada de 28.10.1859.
A LOJA SOFREU TRÊS SOLUÇÕES DE CONTINUIDADE EM SEUS TRABALHOS
PRIMEIRA INATIVIDADE
As atas não elucidaram totalmente a razão da paralisação, mas é muito provável que tenha derivado da incerteza que trouxe a constituição do Gr :.Or :. do Vale dos Beneditinos. Na sessão de 05.07.1884, a Comissão Central opinou que se deveria adotar e reconhecer a ala de Saldanha Marinho, mas que não se faria eleição enquanto não se colocasse em pratos limpos o que acontecia com o GOB. Marcou-se sessão extraordinária para o dia 15.07.1864, quando a Loja se definiria, mas os registros deram um salto até 16.12.1873.
Nesse dia, foi REINSTALADA a Loja, pelo Grande Oriente Unido (GOU), de quem recebeu o Nº 24. A nova Carta Constitutiva não está no Livro de Registro de Cartas Patentes do GOU, mas é provável que tenha sido expedida entre os dias 12.05.1874 e 13.06.1874.
Ao ser reinstalada a Loja, foi eleito Ven :. o Ir :. José Joaquim Avellino, que alforriou sua escrava Maria, de seis anos, filha da escrava Cândida (carta de liberdade com data de 14.12.1873).
SEGUNDA INATIVIDADE
Tudo indica que problemas internos levaram ao adormecimento da Loja. De 1879 a 1880, ela foi abandonada pelos Ilr :., e várias vezes se falou em regularizar as sessões, que haviam passado a quinzenais. Após eleição realizada a 24.10.1879, a próxima sessão foi a 23.07.1880, de posse dos eleitos. O Ven:. José Joaquim Avellino encontrava-se doente, como também sua esposa, e não podia prestar assistência à Loja. A última sessão foi a 27.08.1880.
Com autorização do GOB, a Loja foi REINSTALADA, a 02.05.1896, pelos irmãos Gr:. 7 Benjamim José Teixeira e João Mendes da Silva; Gr :. 4 Jeremias José da Silva e Mello; Gr :. 3 Raimundo Gomes5 da Silva; “iniciados até o Gr:. 3 Antônio Marques da Costa, Álvaro de Assis Osório Mendes, Arlindo Correia Lima, Joaquim Dias de Santana, João Gabriel Batista, Leopoldino Antônio do Rego, José de Castro Lima, Marcos Pereira de Araújo, Pedro José de Santana e Adão de Medeiros Soares; e os “dispersos” Coriolano de Castro Lima, João Raimundo Martins, José dos Santos e Silva e Honório Parentes. A ata tinha também as assinaturas dos seguintes IIr:., que não compareceram por estarem adoentados: Francisco António Freire, Júlio Lustosa do Amaral Nogueira, Gil Martins Gomes Ferreira, Antônio Francisco Ribeiro e Raimundo Antônio Lopes.
Interessante é que, ao se processar a eleição para Ven o Ir:. Benjamim José Teixeira, eleito por unanimidade, não aceitou o cargo, alegando doença. No segundo escrutínio, o Ir:. João Mendes da Silva, eleito por unanimidade, recusou o cargo por considerá-lo superior às suas forças. Por fim, foi eleito Ven:. o Ir:. Álvaro de Assis Osório Mendes, imediatamente empossado.
Como a Loja se encontrava inativa, praticamente nada veio à tona sobre o possível papel dos maçons na Proclamação da República. Voltando à atividade, os registros deram conta desenvolvido que, em 1897, alguns Ir:. da Loja partiram, sob as mais calorosas manifestações, para a Guerra dos Canudos. Entre eles, estavam Arthur Leone, Raimundo de Freitas Almeida, Antônio José Villanova, José Raimundo de Morais e Pedro Augusto de Sousa Mendes.
TERCEIRA INATIVIDADE
Provocada pela ação despótica de autoridades do Estado Novo, o que se chamou de “Questão Getúlio”. A determinação do fechamento da Loja pelo Chefe de Policia foi comunicada na sessão de 22.10.1937 pelo Ven:. Joaquim Macedo de Sousa. De passagem, diga-se que o Chefe de Polícia, Desembargador Cromwell Barbosa de Carvalho, portou-se muito compreensivamente, permitindo que o Ven:. ficasse com a chave do prédio em seu poder e providenciasse limpeza e conservação do patrimônio.
Os llrm:. não suportaram a provação inertes. Com o apoio do interventor Landry Sales, conseguiram a reabertura da Loja, a 27.09.1940. Nesse ponto, alias, o procedimento dos llr:. foi exemplar, pois recusaram seguir outro caminho, qual seja o sugerido pelo Ir:. Antônio Zabulon Fº, Gr:. Sec:. Adm:. da Grande Loja do Ceará, que aconselhou, em Pr:. de 09.08.1940, fundar uma Grande Loja em Teresina e escolher para Gr:. M:. um vulto importante, de “preeminência”, o qual se encarregaria de reabrir a Maçonaria estadual.
RITO
A Loja Caridade II foi fundada no Rito Moderno. Quem iniciou as discussões visando mudança para o REAA foi o Irm:. Sinval de Castro e Silva, em 1902, mas não se chegou a nenhuma conclusão. O assunto foi ventilado novamente em 1924, mas os ânimos esfriaram com o boato de que, se a Loja mudasse o Rito, encerraria suas atividades como Capitular e teria de começar como Simbólica.
O interesse ressurgiu em 1931, paralelamente aodescontentamento com o Rito Moderno, causado por inadequada comunicação. A questão dos metais a serem enviados ao Poder Central se contornou com a criação de taxas especiais e de um “Tr:. para a mudança do Rito”. Este circulou de 04.12.1931 a 20.01.1933, muito embora o arrecadado tenha revertido para uma caixa em favor de asilo de mendicidade que estava nos pianos da Loja, em 1933.
A proposta de mudança de Rito foi aprovada por unanimidade na sessão de 27.11.1931, tendo sido o pedido deferido pela Ass:. Ord:. do Supr:. Cons:. do Brasil na sessão de 03.07.1933. A CARTA no REAA não chegou até agosto de 1935. Se foi remetida depois, ninguém se lembrou de anotar. A mudança oficial do Rito foi marcada para depois das eleições de 06.05.1934, mas nenhum assentamento foi encontrado que pudesse ter relação com ato tão significativo.
A QUESTÃO COM O CLERO
Apesar da condenação da Maçonaria pela Igreja Católica e da perseguição a ela movida por diversos Papas, as relações entre Catolicismo e Maçonaria eram amistosas, no Piauí, estremecidas apenas em virtude de interesse pessoais. Viu-se, como evidência desse bom convivio, que padres foram Iniciados na Caridade lI, nos seus primórdios, enquanto outros deia se aproximaram, demonstrando simpatia e ausência de prevenção contra a Ordem.
A questão surgida em 1872, que envolveu D. Vital Maria Gonçalves de Oliveira, Bispo de Olinda, e D. António de Macedo Costa, Bispo do Pará, encontrou a Caridade II em seu primeiro período de adormecimento, não produzindo nenhum reflexo no Estado, pelo que se sabe. Pouco depois da reinstalação da Loja, artigo do jornal Opinião Conservadora chamava os maçons de “escribas e fariseus”. A reação da Loja foi resposta elaborada pelos Ilr José Joaquim Avellino, Odorico Brasilino de Albuquerque Rosa e Xelderico Araripe de Farias, que saiu em número posterior do mesmo jornal.
Em 1875, formando fileira com as co-irmãs do País, a Caridade ll enviou procurações de seus membros ao Poder Central, “(.. ) a fim de se fazer representar aos poderes do Estado contra o procedimento ilegal e violento de alguns prelados em relação à Maça”. Nada se registrou de anormal no Piauí, naquela época, entre Maçonaria e Igreja. O campo de batalhas era o sul do País, a quem se emprestou apoio e solidariedade.
Celso Pinheiro, a propósito da luta iniciada pela Maçonaria contra a Igreja Católica e seu clero, dizia: “O jornal iniciador dessa luta foi O Reator, editado pela maçonaria, declarando- se órgão maçom e anticlerical. O primeiro número saiu a 05.09.1884, exatamente quando nos visitava o bispo do Maranhão, a cuja província eclesiástica então penencíamos, D. Antônio Cândido de Alvarenga. Seu redator chefe era Clodoaldo Freitas (1855 – 1926). No mesmo colaboraram Higino Cunha (1858 – 1943), Miguel Rosa (1876 – 1929), João Pinheiro (1877 – 1946), Domingos Monteiro (1870 — 1940) e Abdias Neves (1876 – 1928). Entre os anos de 1884 e 1902, quando desapareceu, sairam somente 8 edições. É que só era editado quando aparecia, em Teresina, um bispo do Maranhão, em visita pastoral. O último número marcou a visita do bispo D. Xisto Albano. Continuava Celso Pinheiro, falando sobre os jornais do Piaui: “1º de orientação maçônica – O Oriente (1882). Já Pereira da Costa, em relação de jornais que surgiram na Província do Piauí, de 1832 a 1889, por ordem de aparecimento, escreveu: “111 – O Reator – periódico imparcial, propriedade de uma associação. Teresina, tipografia de O Reator, 1886. Ano ll”.
Ora, como já se comentou, o segundo período de adormecimento da Caridade II se prolongou a 1896. Por força da consequente lacuna na documentação da Loja, nada foi possível verificar quanto à sua atividade nessa fase. É provável, inclusive, que nenhuma atividade tivesse sido desenvolvida, como entidade, nada impedindo, todavia, que seus membros continuassem trabalhando. Ressalta-se, porém, que os redatores de O Reator só foram Iniciados, alguns deles, melhor dizendo, mais tarde. Como esses velhos jornais não mais se encontram a disposição nos arquivos públicos do Estado, ficou impraticável fixar o papel que coube a Loja naqueles acontecimentos.
Por outro lado, acumulou-se informação sobre um capítulo triste no processo de criação do Bispado do Piauí, qual seja a desinteligência entre setores do clero católico e da Maçonaria, de que resultou a publicação do periódico A LUZ. Sobre este, escreveu Celso Pinheiro: “(…) começando por A LUZ (24.06.1890 a 1908), usando os símbolos maçônicos que vinham impressos no próprio jornal: “órgão Maç:. sob os Ausp:. da Aug:. e Resp:. Loj:. Caridade 2ª”. Inicialmente, era anuário, mas em 03.09.1902 entrou em nova fase, como mensal, deixando Higino Cunha a redação e entrando Luís Nogueira, Antonino Freire, João Pinheiro, Abdias Neves, Miguel Rosa e Chaves Júnior. Pelo que se discutirá adiante, o letrado autor cometeu pequenos enganos.
A criação do Bispado do Piaui foi longa e atribulada campanha. Em 1889, a “Comissão Central Pró – Bispado do Piaui” estava constituida dos seguintes cidadãos: “Barão de Castelo Branco, Arlindo Francisco Nogueira, Jacob Almendra de Souza Gayoso, Joaquim Dias de Santana, José Furtado de Mendonça, Arthur Pedreira, Manoel Raimundo da Paz, Manoel Lopes Correia Lima, Elias Firmino de Sousa Martins, José Martins Teixeira, Antônio de Arêa Leão, João Augusto Rosa, padre Joaquim de Oliveira Lopes e cônego Raimundo Gyl de Sousa Brito”. Pelo menos cinco dos membros dessa comissão eram maçons, patenteando que não havia restrição de nenhuma das partes envolvidas na querela que se desencadearia depois. O próprio Higino Cunha, que se constituiu em fervoroso combatente do clero, quando os ânimos mais se acirraram, sugeriu, em col:. grav:. lida a 10.11.1899, “(…) comissão de angariar donativos para a criação do bispado do Piauí”. Sua petição, no entanto, foi arquivada “sem nenhuma nota”, por indicação do Ir:. Clodoaldo Freitas.
Segundo o padre Cicero Nunes, a guerra tremenda entre Maçonaria e clero piauiense, que “(…) começando pela doutrina, acabou nas retaliações pessoais (…)”, eclodiu quando D. Joaquim de Almeida publicou uma pastoral em que apresentava ao clero e aos fiéis a Encíclica Pascendi dominici gregis, de Pio X. O padre Joaquim Chaves, diversamente, deu como principal móvel da luta o artigo “Um Ganso no Capitólio”, de autoria do Ir:. Portella Parentes, insurgindo-se contra a consignação e liberação de verbas orçamentárias da instrução pública para o Seminário Diocesano, aprovadas pelo Governo Álvaro Mendes. Com a morte de Portella Parentes, foi recusada a recomendação religiosa do cadáver, o que levou Abdias Neves a publicar o artigo O Padre Perante a História.
Quase impossivel detectar o que verdadeiramente ocasionou o problema, e para tal propósito não foram úteis os arquivos da Loja Caridade ll. Estes somente registraram que, a 12.04.1901, o Ir:. João Pinheiro lançou a idéia de “(…) um jornal maçônico com o fim de reagir contra o fanatismo religioso entre nós (…)”. Então, na sessão magna de festejos do dia 24.06.1901, enquanto era cantado o hino maçônico composto pelo maestro Pedro de Alcântara Filho, distribuía-se o primeiro número do jornal A LUZ, cuja impressão, gratuita, correu por conta do lr:.Viriato Rios do Carmo. Os redatores eram Higino Cunha, Luís da Silva Nogueira, João Pinheiro Filho e Antônio das Neves Chaves Júnior.
O segundo número do jornal saiu exatamente um ano depois, quando D. António Xisto Albano visitou Teresina e “(…) assistiu à deflagração de violenta luta entre a maçonaria e o Mons. Joaquim Oliveira Lopes, estado de beligerãncia ideológica ue marcaria profundamente os primeiros anos da Diocese do Piaui”. Realmente, tudo aponta Monsenhor Lopes como destacado personagem da disputa, porém seu nome foi citado nas atas da Caridade ll somente a 14.07.1902, quando se assinalou que ele estava a par do que se passava nas sessões, principalmente dos ataques que lhe eram feitos. Depreende-se daí que, embora não mencionado textualmente, já era alvo das atenções da Loja.
Não obstante a observação de Celso Pinheiro, de que o jornal A LUZ entrou em tiragem mensal no ano de 1902 (ver antes),isso não ocorreu. Em revide a notícias do jornal “Estandarte Católico”, publicação de monges beneditinos da Bahia, ficou decidido que A LUZ deveria sair todos os meses, não há dúvida. Problemas com as despesas, entretanto, acarretaram a publicação de apenas mais um número do jornal naquele ano, além do comemorativo do aniversário de Miguel Rosa (de 15.02.1902), que deve ter circulado em setembro ou outubro.
Em seguida, os dados existentes sugerem que tenha saído um número a 24.06.1903; outro em meados de 1905; outro a 24.06.1908; outro, possivelmente, em outubro de 1908. O que levou o Nº IX, datado de 10.08.1908, e o único exemplar que há na Casa Anísio Brito, em precarissimas condições, aliás, irreconhecível, de tão estacelado. Por infelicidade, não sobrou sequer uma cópia do jornal nos arquivos da Caridade ll.
Houve desavenças entre os redatores do jornal, em 1902, e pequenas mudanças dos nomes dos responsáveis foram introduzidas em 1903 (duas vezes), 1904, 1907 e 1908. Mas A LUZ não foi o único veículo utilizado pelos irmãos, que se valeram também de folhetos, de conferências públicas e de espaços em outros jornais, como A Pátria e O Comércio. Pensou-se igualmente na publicação de uma Revista quinzenal, em fins de 1907, mas entraves financeiros tornaram a idéia uma quimera.
Contrariando setores mais agressivos da Loja, alguns irmãos, desde final de 1905, achavam-se desiludidos com a campanha contra Monsenhor Lopes, e aspiravam a um final sem quebra de dignidade. As bases do acordo entre clero e Maçonaria só foram estabelecidas em novembro de 1908. Confeccionadas pelos redatores de A Luz, segundo o Ir:. MigueI Rosa “(…) não eram humilhantes para nenhuma das partes”. Todos os IIr.’. concordaram com o término da “polêmica jornalística”, assim definida por Joaquim Chaves: “Apelidada de luta religiosa, foi de fato mera e unicamente luta política, na qual ambos os lados disputavam, com fúria, posições políticas de mando”. Nesse caso, a Maçonaria toi implicada desnecessariamente. Seviu de suporte e arma para um lado, e de alvo de ataques e críticas para o outro.
O acordo, todavia, não sepultou os ressentimentos. A Diocese iançara um jornal, O Apóstolo, provavelmente em 1903, sob a orientação de Elias Martins. Até certo ponto, vinha substituir A Cruz, dirigida pelo Cônego Honório José Saraiva, que surgira em virtude do Decreto do Governo Provisório que separou a Igreja do Estado (de 07.01.1890). Fiel a sua política, O Apóstolo não perdia oportunidade de criticar a Maçonaria, e atirou ridículo sobre as festas oferecidas ao Ir.: Sinval de Castro e Silva, por ocasião da instalação da Loja Igualdade Florianense. A Caridade II respeitou o trato, engolindo esse e outros sapos. O jornal A Luz estava extinto, acredita-se. Sua prestação de contas foi aprovada pela Loja, com atraso, no dia 22.01.1909, e os dez quilos de tipos, adquiridos para a impressão do jornal em 1908, foram colocados a venda em 1910 (comprados, em 1914, por IIrm.’. de Caxias).
O Ir.’. Abdias Neves foi quem persistiu na idéia de manter um órgão de defesa e divulgação da Maçonaria, propondo mesmo o lançamento de uma Revista, em 1909. Sua insistência não ganhou ressonância na Loja, tendo ele e outros continuado a defender seus pontos de vista em órgãos profanos, como O Monitor, de feição anticlerical.
Mais tarde, e antes da aplaudida atitude do Papa João Paulo II, abolindo a excomunhão dos católicos que são maçons (Código Canônico de 24.01.1983), pequenos mal-entendidos macularam a coexistência pacifica da Ordem no Piauí com a igreja Católica. Deve ser destacada apenas a velada guerra do Arcebispo de Teresina, D. Severino Vieira de Melo, contra a Maçonaria, que recebeu corajosa reação do então padre Joaquim Chaves. Este se opôs à ordem de D. Severino no sentido de os sermões das práticas religiosas alertaram os fiéis sobre os perigos da Maçonaria. Por sinal, foi no Governo de D. Severino que se criou O Dominical, semanário da Diocese que substituiu O Apóstolo.
NOGUEIRA FILHO, Luiz Nódgi. Contribuição à História da Maçonaria no Piauí. 2ª ed. Teresina: Edição do autor, 2020.
OBSERVAÇÕES EXTRAS:
PRIMEIRA:
Muitos IIrm da ARLS Caridade II formavam a intelectualidade da época, chegando a fundar a Academia Piauiense de Letras.
“Às nove horas do dia 30 de dezembro de 1917, no Salão Nobre do Paço Municipal de Teresina, foi fundada a ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS, pelos dez intelectuais abaixo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS
A Memória Histórica da Academia Piauiense de Letras, de autoria de Fenelon F. Castelo Branco, divulgada em 1918, traz os seguintes dados a respeito da fundação da academia “Foi no dia 30 de dezembro de 1917 que, pelas nove horas, o salão nobre do Conselho Municipal, um grupo de intelectuais patrícios, composto pelos Srs. Clodoaldo Freitas, Higino Cunha, João Pinheiro, Édison Cunha, Lucídio Freitas, Jônatas Batista, Celso Pinheiro, Antônio Chaves, Benedito Aurélio de Freitas e Fenelon Castelo Branco, tomou a louvável iniciativa de organizar em Teresina, a exemplo de outras capitais de Estados da Federação, um grêmio literário, tendo por fim a cultura da língua e o desenvolvimento da literatura piauiense. E assim reunidos em sessão, sob a presidência de Lucídio Freitas, esse espírito brilhante já vantajosamente conhecido nas letras pátrias, ficou imediatamente fundada a Academia Piauiense de Letras.”
Procedeu em seguida à eleição para os membros componentes da respectiva Diretoria, que ficou assim constituída:
Presidente – Clodoaldo Freitas / Secretário Geral: João Pinheiro / Primeiro Secretário: Fenelon Castelo Branco / Segundo Secretário: Jônatas Batista / Tesoureiro: Antônio Chaves / Bibliotecário: Édison Cunha”
Disponível em:https://www.academiapiauiensedeletras.org.br/os-fundadores/. Acesso em 16 jun.2020.
SEGUNDA:
Em nosso Portal, na páginatem-se a biografia de vários IIrm que participaram da polêmica entre Maçonaria e Igreja Católica da época. Veja os verbetes Higino Cunha, Abdias Neves (aqui encontra-se bem detahada as atividades jornalísticas promovidas pela o II)e o discursoinflamado de Mathyas Olympio (Palestra na ARLS Caridade II em 1911).
TERCEIRA:
Indicamos como leitura aprofundada sobre o assunto o livro da Profª Áurea Pinheiro, produto de sua dissertação de mestrado junto à Universidade Estadual de Campinas.
QUARTA:
Download de artigos e trabalhos de pós-graduação que abordam temas paralelos aos vividos pela Maconaria piauiense entre o final do século XIX e o início do século XX:
- Painéis da cidade de Teresina no início do século XX no romance Um Manicaca, de Abdias Neves – Áurea Pinheiro.
- Psychologia do christianismo (1910) de Abdias Neves: marco para psicologia piauiense – autores diversos (UFPI)
- História e identidade: as narrativas da piauiensidade – Paulo Gutemberg (ver sumário)
- O desmontar das utopias – Abdias Neves e o ainticlericalismo e política no piauí nas três primeiras décadas do século XX (doutorado defendido na Universidade Estadual de Camoinas)